Oportunidades de negócio na recuperação da economia estão no digital, energia, saúde e infraestruturas

Participantes na conferência “China – Portugal: Novas Oportunidades num Contexto de Recuperação Europeia”, promovida pelo Banco da China, apontam aéreas com maior potencial. China pode significar investimento, mercado e internacionalização para aproveitar oportunidades, com olhos nos mercados que falam português.

A recuperação da economia portuguesa encerra oportunidades, alicerçadas no plano financiado pela Europa, mas também no natural desenvolvimento económico. Para os participantes na conferência “China – Portugal: Novas Oportunidades num Contexto de Recuperação Europeia”, promovida pelo Banco da China, juntamente com a Associação de Sociedades Chinesas em Portugal e a AJEPC, a transição digital, a transição energética, as infraestruturas e a saúde são áreas preferenciais de investimento.

“Sentimos uma recuperação [da economia] e estamos expectantes quanto a estes investimentos públicos [decorrentes do PRR]”, afirmou Gonçalo Moura Martins, presidente-executivo da Mota-Engil, considerando que os recursos europeus de que Portugal disporá nos próximos anos constituem uma “oportunidade única”, numa opinião partilhada pelo vice-presidente do Millennium BCP, João Nuno Mata, e pelo presidente-executivo da Be Water, Alberto Neto.

Neto apontou que as infraestruturas serão um alvo de investimento e disse que o sector da água, pela necessidade que tem de reforma das redes de abastecimento, deverá ser destacado.

É neste quadro de recuperação e de apoios europeus que Lingjiang Xu, administrador da chinesa Fosun em Portugal, considera existir margem para aprofundamento das relações entre empresas dos dois países, beneficiando da maior capacidade financeira da China. “A economia chinesa tem registado progresso, mesmo durante a pandemia. Acredito que, depois da pandemia, encontraremos um novo auge de investimento em Portugal”, disse.

Lingjiang Xu apontou o exemplo da relação entre a Mota-Engil e a chinesa CCCC para sublinhar que a cooperação entre as duas empresas pode ajudar a ultrapassar a crise e a aproveitar as oportunidades que se colocam, não só nos mercados tradicionais das duas empresas, mas em mercados terceiros.

“Portugal é uma muito boa plataforma e temos de maximizar o efeito que ela pode ter”, acrescentou o administrador da Fosun.

O possível incremento na relação sucede a um período em que o investimento da China em Portugal atingiu máximos. “Na última década, assistimos a um investimento forte da China em Portugal, com mais de 12 mil milhões de euros [investidos]”, referiu João Pinheiro, team leader do departamento de Corporate Finance do Banco da China em Portugal. “O saldo é claramente positivo, não só pelo investimento, mas pela relação comercial entre os dois países. Estamos a falar do dobro de exportações para a China e da China para Portugal, nos últimos cinco anos”, acrescentou.

A Mota-Engil, onde o grupo chinês CCCC tomou uma posição de 32,4%, é o mais recente exemplo do estreitar de relações. “Estamos muito entusiasmados com esta parceria. Entendemos que é a abertura de um novo ciclo”, afirmou Moura Martins, sublinhando que “vai dar ao grupo uma capacidade de desenvolvimento muito grande”.

Energia continua em destaque

João Pinheiro considerou que, nos últimos 10 anos, o investimento chinês procurou mais a banca, os seguros e a energia, mas que agora se abrem outras oportunidades. “Estamos a caminhar para uma era mais digital, de infraestruturas e de green economy, no 5G, nas energias renováveis”, disse.

A transição energética é uma das áreas onde estão identificadas oportunidades. Pedro Amaral Jorge, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis, explicou que as metas definidas pela UE e por Portugal “são ambiciosas, mas exequíveis”. Para serem atingidas, requerem investimento privado da ordem dos 30 mil milhões de euros. “Mais do que uma oportunidade para a descarbonização, é uma oportunidade de desenvolvimento socioeconómico”, afirmou.

Lucas Wang, administrador da Huawei Digital Power, destaca como oportunidade o investimento no fotovoltaico, mas avisa que atingir as metas propostas para as energias renováveis é um desafio europeu, mas ainda mais para Portugal, onde é necessário solucionar problemas relacionados com processos, com a capacidade da rede, assim como de disponibilidade de capital. “Empresas, bancos e Estado têm de trabalhar em conjunto. Todos poderão beneficiar desta relação”, asseverou.

No encerramento, o presidente do Banco da China em Portugal, Xiao Qi, destacou a transversalidade da “economia verde”, que não se cinge à energia, mas envolve todas as empresas e todos os sectores, com repercussão, também, no financeiro. “Há muito por fazer”, disse.

Na conferência, de que o JE foi media host, participou também Nuno Carvalho, diretor de Vendas e Desenvolvimento de Negócio da CaetanoBus, que explicitou os objetivos da empresa portuguesa e a ideia de crescerem para novos mercados, nomeadamente na América Latina.

“Daqui a 10 anos queremos ser um dos grandes fabricantes mundiais de autocarros. Hoje somos um pequeno que aparece no meio dos grandes”, disse.

O deputado Carlos Pereira, economista e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, fez a intervenção de abertura, sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), apontando o seu impacto de 2,4% no produto interno bruto (PIB) até 2026 e de 10% nos próximos 10 anos.

Carlos Pereira referiu que o país “tem resistido à pandemia muito pela resiliência dos empresários” e sublinhou que, apesar dos constrangimentos detetados, tem demonstrado capacidade de atração de investimento estranegiro. “Portugal entrou recentemente para o top 10 das economias com mais investimento estrangeiro, em termos absolutos. Estamos à frente de economias como a Espanha, por exemplo, que é muito maior e atrai muito menos investimento. Significa que Portugal tem razões de atração de investimento estrangeiro”, disse.

Transição digital, economia do mar e saúde

O PRR marca o tom das oportunidades e ajuda a identificar os sectores considerados com maior potencial. No primeiro dia de trabalhos da conferência, Yu Hui, analista sénior do Serviço da Informação Económica da China sobre Países Estrangeiros, apontou a transição digital, a economia do mar e o sector da saúde como aqueles em que poderão existir maiores oportunidades.

“Acreditamos que o plano de recuperação económica de Portugal trará três grandes oportunidades de investimento e as empresas com financiamento chinês podem avaliar se podem entrar nestas áreas”, afirmou.

A transição digital é considerada pela noção de que o “Governo português considera o desenvolvimento de tecnologia avançada como uma das grandes prioridades da economia nacional, sendo os dois importantes objetivos do plano de recuperação de Portugal a promoção da construção de uma economia de baixo carbono e a transformação digital”, referiu Yu Hui.

A segunda maior oportunidade de investimento está na economia do mar, incluindo-se aqui a exploração da energia eólica marítima.

“Portugal apresenta vantagens notáveis nos recursos marinhos: o volume de negócios anual da indústria marítima ronda os seis mil milhões de euros, representando cerca de 3% do produto interno bruto e as exportações da indústria marítima representam 4% do total das exportações portuguesas”, disse Hu, sublinhando que a cooperação marítima é uma parte importante da cooperação bilateral China-Portugal, com vantagens em ser reforçada. “Portugal tem vantagens na investigação teórica básica em ciências marítimas e a China tem uma rica reserva de pessoas talentosas e o apoio que dá a projetos de pesquisa científica tem aumentando de dia para dia”, explica, acrescentando que, em conjunto, os dois países terão “mais oportunidades de cooperação na proteção marítima e desenvolvimento e na utilização de recursos marítimos, pesquisa científica marítima, economia marítima, construção de infraestruturas portuárias e atualização tecnológica”.

No setor da saúde, destaca que o Governo português planeia investir 12,1 mil milhões de euros “numa grande reforma do sistema de saúde”.

“Vai usar o Fundo de Recuperação da União Europeia para reforçar a construção de sistemas de serviço de saúde básicos, como centros de saúde familiar, cuidados integrais, cuidados paliativos e de saúde mental, etc, e melhorar o serviço do sistema nacional de saúde”, justifica a analista.

“No futuro, China e Portugal têm muito espaço para cooperação no desenvolvimento da ‘Rota da Seda da Saúde’”, acrescentou.

in Jornal Económico, 05 Julho 2021, 06:40

 

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